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Posts Tagged ‘Liga dos Comunistas’

Karl-MarxINTRODUÇÃO
Com o fim da era napoleônica, as monarquias europeias se reuniram com o objetivo de conter as propostas de transformação disseminadas pela Revolução Francesa. Tal encontro aconteceu no chamado Congresso de Viena, momento em que parte dos monarcas que ali se encontravam decidiu formar a chamada Santa Aliança. Nesse acordo, diversos monarcas se comprometiam a auxiliar militarmente toda monarquia que tivesse sua autoridade ameaçada. Contudo, esse projeto que deveria preservar o Antigo Regime não foi capaz de conter a marcha das novas revoluções que tomariam conta da Europa. No ano de 1848, as várias novas correntes políticas que surgiam em todo o Velho Mundo se mostraram decididas a dar fim ao regime monárquico. Em linhas gerias, o contexto político europeu se via tomado não só pelas propostas liberais oriundas da experiência francesa, mas também contou com a ascensão das tendências nacionalistas e socialistas. Um pouco antes que tais levantes acontecessem, entre os anos de 1846 e 1848, uma seqüência de péssimas colheitas provocou uma crise econômica responsável pela elevação súbita do preço dos alimentos. Concomitantemente, a queda no consumo dos produtos industrializados motivou a demissão de operários nos centros urbanos. De fato, toda a economia capitalista européia enfrentava um delicado processo de estagnação que daria origem aos levantes que marcaram a chamada “Primavera dos Povos”. Reagindo a esse quadro desfavorável, membros do operariado e do campesinato passaram a exigir melhores condições de vida e trabalho. Aproveitando das novas tendências que surgiam, fizeram uma forte oposição ao regime monárquico por meio de uma série de levantes. Alimentando ainda mais esse sentimento de mudança, nesse mesmo ano, houve a publicação do Manifesto Comunista, obra de Karl Marx e Fredrich Engels que defendia a mobilização dos trabalhadores. Comungando da união exprimida por esse Manifesto, várias cidades foram tomadas por barricadas de trabalhadores que se espalhavam por cidades da França, dos Estados Alemães, da Áustria e outros grandes centros urbanos. Apesar dos ideais românticos e das bandeiras coloridas em favor de uma sociedade mais justa, a “Primavera” não conseguiu transformar definitivamente a Europa. Contudo, demonstraram a nova articulação política que estava sendo engendrada. A partir desse evento histórico, a sociedade burguesa teve alguns de seus princípios assegurados. Todavia, ficou claro para a nova ordem burguesa o potencial de mobilização das classes trabalhadoras em torno de seus interesses e projetos políticos próprios.
O objetivo, portanto, do presente artigo, além de relacionar o momento histórico conhecido como “Primavera dos Povos” com um de seus personagens, no caso Karl Marx, é o de responder algumas questões: O que foi a Liga dos Comunistas? Qual foi o envolvimento de Marx e de seu companheiro Engels na Liga dos Comunistas? O que foi o Manifesto do Partido Comunista e qual a sua relação com as revoluções de 1848? Qual foi a participação de Marx e Engels no processo revolucionário de 1848? Quais foram as principais doutrinas econômicas e socialistas desenvolvidas por Marx tanto no período da “Primavera dos Povos” como também posteriormente que influenciaram a história do pensamento econômico?

A LIGA DOS COMUNISTAS
A Liga dos Comunistas originara-se da Liga dos Justos, nascida em 1836 de uma cisão na Liga dos Banidos, fundada dois anos antes. A Liga dos Justos estava intimamente ligada à trajetória da própria indústria moderna e às primeiras tentativas de organização política da classe operária européia. Intercalando fases de expansão e retração, a Liga pôde implantar-se na França, na Suíça e na Inglaterra. Na capital inglesa será bem mais rápido o progresso em direção a um novo programa político e a uma nova concepção de socialismo. Entre 1843 e 1846, as discussões transcorridas em Londres acabaram por determinar a afirmação de novos princípios e disposições no interior da Liga. A revolução passa a ser vista como o resultado de um longo processo que combinava propaganda, ação permanente e organização. Amadurece na Liga dos Justos a convicção de que era indispensável um embasamento científico de uma revolução social [1].
Enquanto isso, em Bruxelas, Marx e Engels começavam a participar mais ativamente do movimento político. No início de 1846, fundam naquela cidade o Comitê de Correspondência Comunista. Tratava-se de um movimento dedicado a unir os socialistas dos diversos países e elaborar uma concepção comum, moderna e atualizada, e de estabelecer que apenas o estudo científico da estrutura econômica da sociedade burguesa poderia fornecer uma sólida base teórica para a ação revolucionária. A Liga dos Justos não poderia permanecer imune a isso. Os novos dirigentes já haviam adotado a ideia nova de um comunismo científico. É então convocado um congresso para maio-junho de 1847, que deveria contar com a participação dos seguidores da nova doutrina dos diversos países. Em janeiro de 1847, Joseph Moll, em nome da Autoridade Central da Liga dos Justos, encontra-se com Marx e com Engels, sendo que ambos decidem ingressar na Liga. Entre 2 e 9 de junho de 1847, realiza-se em Londres o congresso convocado, no qual Engels comparece. O congresso referendou a conversão da Liga dos Justos em Liga dos Comunistas, elaborou, para discussão, um Projeto de Estatutos, e submeteu às comunas um Projeto de Profissão de Fé Comunista. Os novos estatutos e o projeto de programa foram enviados às comunas da Liga, para discussão. Fixava-se o final do ano como período para a realização de um segundo congresso, no qual seriam tomadas as deliberações finais. Marx e Engels participarão ativamente das discussões comunistas do segundo semestre de 1847, sendo que, em Paris, em outubro, Engels redige os Princípios do Comunismo, que iriam servir de base para o futuro Manifesto Comunista. Funcionariam como seu primeiro esboço e norteariam a participação de Marx e de Engels no segundo congresso da Liga, cujos debates desembocaram entre 29 de novembro e 8 de dezembro de 1847, em Londres. Marx não só compareceu como também polarizou toda a discussão, sendo que Marx e Engels receberam o encargo de redigir o manifesto. Estava completada a conversão da Liga, primeira organização socialista a contar com a participação política direta de Marx e Engels e a se inspirar nas idéias por eles desenvolvidas. Marx retorna a Bruxelas e nos primeiros dias de fevereiro de 1848, inicia o trabalho de redação do manifesto com a colaboração de Engels. Três semanas depois, o texto estava concluído, pronto para ser enviado a Londres [2].

O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
O historiador Eric Hobsbawn relata que, no início de 1848, o pensador político francês Alexis de Tocqueville exortava que o vento das revoluções estava no horizonte, e que, mais ou menos no mesmo momento, dois exilados alemães, Marx, com trinta anos, e Engels, com vinte e oito, divulgavam os princípios da revolução proletária que havia sido publicado anonimamente em Londres, em 24 de fevereiro de 1848, sob o título de Manifesto do Partido Comunista. Em poucas semanas, ou, no caso do Manifesto, em poucas horas, as esperanças e os temores pareceram estar na iminência da realização. A monarquia francesa havia sido derrubada por uma insurreição, a república fora proclamada e a revolução européia se iniciava [3].
O ingresso de Marx e Engels na Liga dos Comunistas e a redação, por eles, do Manifesto, representavam uma significativa guinada na história do socialismo e das organizações operárias europeias, que passavam a contar com a possibilidade efetiva de explicar cientificamente o mundo que queriam transformar. Em 1848, o Manifesto era o resultado da trajetória intelectual de Marx e Engels, o produto principal da fase de consolidação de suas idéias e opções. Constitui o documento básico para se conhecer com que visão global da realidade, e com quais critérios para transformá-la, Marx e seu grupo comunista ingressaram na revolução concreta que se iniciara em Paris nos mesmos dias em que saíram do prelo, em Londres, os primeiros exemplares do famoso texto. O Manifesto era a plataforma política e programática com vistas a uma revolução específica, pois nele pulsa forte o tema da transição para o socialismo, de seu ritmo, de seus problemas e etapas; sua perspectiva era de que, naquele momento, a revolução tornaria possível passar com certa rapidez de uma fase liberal-democrática a uma fase abertamente socialista. O Manifesto não é um texto isento de lacunas e ambiguidades, todavia, apresentava com vigor incomum para a época os objetivos básicos, táticos e estratégicos dos comunistas. Não apresentava nenhuma teoria sistemática do partido, já que naquele momento irá tão somente anunciar um primeiro e bastante precário esboço da ideia de partido político. Na concepção de Marx e Engels, a Liga dos Comunistas era um partido somente no sentido de associação revestida da função de propaganda; não era ainda o partido com função de direção e organização permanente e em hipótese alguma deveria se dedicar à conspiração, à preparação de golpes e insurreições. Seja como for, o Manifesto simbolizará a explicitação de uma nova ideia de socialismo e de política revolucionária. Irá se colocar na vanguarda de uma luta que ganharia transparência em 1848 com seus desdobramentos que chegam aos dias de hoje [4].

MARX E ENGELS NO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO DE 1848
Em fevereiro de 1848, ao mesmo tempo em que a redação do Manifesto era concluída e enviada para impressão explodia a revolução em Paris e, quase simultaneamente, em quase todo o continente europeu. Em março, o Comitê Central da Liga dos Comunistas em Londres transfere seus poderes para o círculo dirigente de Bruxelas. A capital belga, no entanto, já se encontrava em estado de sítio e não oferecia qualquer condição para a atividade revolucionária. Decide-se então delegar a Marx a tarefa de constituir um novo Comitê Central em Paris, cidade para onde todos os dirigentes comunistas pretendiam se transferir. Entre 15 e 19 de março, o movimento revolucionário obtém vitórias em Viena e Berlim. Reunidos na capital francesa, os elementos mais destacados da Liga (entre os quais Marx e Engels) redigem as Reivindicações do partido comunista na Alemanha que, juntamente com exemplares do Manifesto, serão introduzidas em território alemão pelos militantes da Liga que começavam a retornar a seu país para participar da luta. No início de abril, Marx e Engels fixam residência em Colônia. No mês de maio, contra a opinião de dirigentes da Liga, decidem interromper a atividade da Liga na Alemanha e atuar publicamente no movimento democrático. Adquirem então o controle de um antigo periódico republicano, a Nova Gazeta Renana e o transformam num autêntico diário revolucionário. Desde o seu número inaugural, o jornal manterá o firme propósito de atuar como ala avançada do partido democrático. Ao longo de 1848, a atividade política de Marx será particularmente intensa e ele se torna personagem de destaque no movimento democrático e revolucionário alemão.Todavia, começara a perceber que, dadas as condições históricas que haviam determinado o desenvolvimento alemão e a formação da burguesia alemã, a aliança entre essa classe e o proletariado era frágil demais para fornecer base de apoio para a revolução. Porém, ao abrir-se o ano de 1849, a expectativa de todos era de que, de Paris, viria um novo impulso para o avanço da revolução na Europa. Era o que bastava para manter vivo e radicalizar o movimento. A agitação e a propaganda através da imprensa tornam-se de novo intensas e inflamadas. Embora ainda fiel à tática da ação conjunta com os democratas burgueses, a Nova Gazeta Renana tornar-se-á cada vez mais implacável com as vacilações da burguesia alemã e com os setores do movimento democrático. No mês de abril, Marx e seu grupo rompem com o partido democrático, na expectativa de colocar o proletariado alemão em melhores condições para se afirmar como força autônoma. Será tarde, porém, para a retomada do processo revolucionário. A contra revolução avançava por todo o país. Engels é obrigado a abandonar Colônia e Marx é expulso da Prússia [5].
Marx e Engels visitam Baden e Palatinado que tinham estruturado um exército revolucionário e ainda estavam em luta. Os dois então se separam. Engels permanece no Palatinado e se incorpora a uma unidade de voluntários. Participa diretamente de vários combates que põem fim à pequena guerra civil e, a 12 de julho, cruza a fronteira suíça. Marx dirige-se a Paris onde fica por pouco tempo, pois o governo francês o expulsará da cidade. A alternativa passa a ser Londres, de onde Marx nunca mais sairá. Em outubro, Engels a ele se reunirá. Por uma série de divergências internas no seio da Liga dos Comunistas somadas a perseguições e prisões a membros dirigentes, entre 1850 a 1852, a Liga virá a se desarticular e experimentar o seu ocaso. Depois disso, Marx e Engels irão se afastar de qualquer engajamento em organizações políticas. Marx, em particular, ficará convencido de que seu trabalho teórico era muito mais benéfico para a classe operária do que a sua participação em organizações [6]. A seguir, as principais idéias, inclusive econômicas, que foram resultado de seu trabalho teórico.

TEORIA ECONÔMICA DE MARX
Marx encarava a grande maioria dos socialistas do final do século XVIII e princípio do século XIX como filantropos honestamente indignados com a exploração desumana que acompanhou o desenvolvimento inicial do capitalismo. Qualificou-os de socialistas utópicos. Julgava ingênua sua convicção de que transformariam a sociedade apelando para a racionalidade e a sensibilidade moral da classe educada. Os homens educados pertenciam geralmente às classes dominantes e deviam sua posição e sua prosperidade aos privilégios inerentes ao sistema capitalista. Portanto, fariam tudo o que estivesse ao seu alcance para perpetuar esse sistema. Marx tinha uma fé inabalável no advento do socialismo, pois as próprias contradições e antagonismos internos do sistema capitalista ocasionariam a sua destruição. Marx baseou seu estudo da sociedade capitalista numa abordagem histórica que ficou conhecida como materialismo histórico [7].
Marx afirmava que a base econômica da sociedade, ou o modo de produção, exercia a influência mais poderosa sobre o conjunto, determinando as demais instituições sociais, assim como as diversas modalidades de pensamento. O modo de produção compunha-se de dois elementos: as forças produtivas e as relações de produção. As forças produtivas englobavam as ferramentas, fábricas, equipamentos, o conjunto de habilidades e conhecimentos adquiridos pela força de trabalho, os recursos naturais e o nível tecnológico. As relações de produção constituíam as relações sociais que os homens mantinham entre si, a relação de propriedade ou não propriedade que cada classe de homens estabelecia com os meios de produção, implicando determinada forma de repartição dos frutos da atividade produtiva. O conjunto do sistema econômico, ou modo de produção, foi denominado por Marx infra-estrutura. As religiões, a ética, as leis, os costumes e as instituições sociais compunham a superestrutura. Marx afirmou que o modo de produção, tomado isoladamente, constituía o determinante principal não só da superestrutura existente, como também da direção para a qual tendem as mudanças sociais. Marx referia-se à estrutura de classes da sociedade como o aspecto mais importante do modo de produção. Os antagonismos entre as classes sociais constituíam a força motriz da história. Na abertura do Manifesto Comunista declarou que a história de toda sociedade existente tem sido a história das lutas de classe. Marx identificou quatro sistemas econômicos, ou modos de produção: comunismo primitivo, escravismo, feudalismo e capitalismo. Em cada um destes sistemas econômicos, dominava um único modo de produção caracterizado por determinadas forças produtivas e determinadas relações de produção ou uma estrutura particular de classes. A necessidade de ampliar a produção conduzia a modificações nas forças produtivas, sem que as relações de produção sofressem alterações. Instauravam-se, então, conflitos entre as forças produtivas em transformação e as relações sociais de produção que se mantinham inalteradas. Tais conflitos cresciam em intensidade, até que uma sucessão de erupções sociais punha abaixo o antigo sistema, dando origem a um novo sistema, caracterizado por novas relações de classe. Em todo modo de produção, as contradições entre as forças produtivas e as relações de produção manifestavam-se sob a forma de lutas de classe. Travava-se uma luta incessante entre a classe que detinha os meios de produção bem como a maior parte das riquezas e a classe majoritária explorada por ela. A luta de classes provocava a destruição de um sistema para que, em seu lugar, surgisse outro sistema. O capitalismo seria o último modo de produção baseado na existência de antagonismos de classe. A classe capitalista seria derrubada pelo proletariado que instauraria uma sociedade sem classes, na qual os meios de produção seriam convertidos em propriedade de todos [8].

CRÍTICA MORAL DE MARX AO CAPITALISMO
Duas características diferenciam, segundo Marx, o capitalismo dos outros sistemas: a separação do produtor dos meios de produção, dando origem a uma classe de proprietários e uma classe de trabalhadores; e a infiltração do mercado tanto na esfera da produção quanto na esfera da distribuição. O sistema capitalista impedia os homens de desenvolverem suas potencialidades, de se tornarem seres plenamente realizados do ponto de vista emocional e intelectual. Anteriormente, o homem aprimorou seus sentidos e seu intelecto através do trabalho e na relação com os objetos por ele produzidos, conheceu o sentimento de prazer e de auto-realização. Nos sistemas sociais pré-capitalistas o homem foi capaz de alcançar a auto-realização no processo do trabalho, a despeito de serem sistemas assentados na exploração de classes, pois as relações sociais possuíam também um caráter pessoal e paternalista. O capitalismo suprimiu esta possibilidade. Na sociedade capitalista, o mercado isolou o valor de troca ou o preço, das qualidades que configuravam a relação do homem com os objetos materiais e com os outros seres humanos. Os salários representavam simplesmente mais uma despesa de produção. O trabalho converteu-se em uma mercadoria como qualquer outra. As oportunidades para que o trabalhador pudesse vender sua força de trabalho escapavam a seu controle: dependiam das frias e impessoais condições de mercado. O produto do trabalho, propriedade do capitalista, tornou-se um objeto totalmente independente e exterior à vida do trabalhador. Marx empregou o termo alienação para qualificar a condição dos homens que viviam essa situação. Sentiam-se alienados de seu trabalho, de seu meio cultural e dos próprios companheiros. As oportunidades e as condições de trabalho, assim como os objetos produzidos passaram a ser determinados por um pequeno número de capitalistas, em função das oportunidades de lucro e não das necessidades ou das aspirações humanas [9].

TEORIA DO VALOR-TRABALHO E DA MAIS-VALIA
O capital e o trabalho mantinham entre si uma relação essencialmente de troca. O trabalhador vendia sua força de trabalho para o capitalista, e com o dinheiro adquiria os elementos indispensáveis para satisfazer suas necessidades materiais. Marx definiu mercadorias como os objetos destinados à troca, por oposição aos objetos de uso pessoal. Procurou, então, analisar o que determinava o valor de trocas das mercadorias por oposição à noção de valor de uso, a medida da utilidade das mercadorias para seus possuidores. Marx acreditava que o valor de troca de uma mercadoria era determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-la. Sua teoria é denominada teoria do valor-trabalho. O desejo de maximizar os lucros levaria os capitalistas a evitar a produção de mercadorias para as quais não houvesse procura. O nível de procura no mercado determinaria que mercadorias seriam produzidas, e em que quantidades. Quando os trabalhadores concluíam o processo de produção, o capitalista vendia as mercadorias por uma quantia superior à quantia investida no início do processo. Marx considerou essa diferença a origem dos lucros capitalistas e denominou-a mais-valia. O valor da força de trabalho equivalia ao valor dos meios de subsistência necessários para a manutenção do trabalhador a um padrão mínimo de vida. Contudo, a duração média da jornada de trabalho excedia o tempo necessário para que o trabalhador produzisse o valor equivalente ao seu salário de subsistência: o excedente era apropriado pelo capitalista. Marx chamou esse processo de a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas [10].

ACUMULAÇÃO DE CAPITAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Segundo Marx, este era o processo da acumulação de capital: o capital proporcionava lucros que, por sua vez, proporcionavam mais capital. Uma vez realizada a acumulação inicial de capital, a ânsia de acumular mais capital tornou-se a força motriz do sistema capitalista. Acossado por todos os lados pelos concorrentes, era preciso que estivesse sempre acumulando mais capital e fortalecendo sua capacidade de competir. Os concorrentes estavam desenvolvendo constantemente métodos novos e melhores de produção. Vencer o desafio implicava, para o capitalista, acumular equipamentos novos e de melhor qualidade. Precisava, em seguida, contratar uma quantidade maior de trabalhadores para operar os novos equipamentos. Até então, os capitalistas puderam manter os salários ao nível da subsistência graças à pressão do exército industrial de reserva. Contudo, à medida que as indústrias se expandiam, o crescimento da procura por mais mão-de-obra tendia a exaurir o exército industrial de reserva. Os capitalistas tinham então que pagar salários mais elevados para obter a quantidade suficiente de mão-de-obra. A alternativa mais vantajosa consistia em modificar as técnicas de produção, introduzindo novas máquinas que poupassem mão-de-obra, utilizando a mesma ou uma quantidade ainda menor da força de trabalho. Quando os capitalistas tomavam essa iniciativa, resolvia-se temporariamente o problema dos salários elevados, uma vez que o exército de reserva voltava a crescer. A criação do desemprego tirava os capitalistas do aperto, mas introduzia novos problemas e contradições. A expansão industrial baseada na poupança de trabalho resultava no incremento da produção total. No entanto, os salários pagos aos trabalhadores não cresciam na mesma proporção que a produção. Ao mesmo tempo em que os produtos eram despejados em quantidades cada vez maiores no mercado, os salários dos trabalhadores e, por conseqüência, a demanda dos consumidores tendia a se restringir. Ante a insuficiência da demanda dos consumidores, os capitalistas do setor de bens de consumo seriam obrigados a desistir de ampliar suas instalações produtivas. Tal decisão reduziria a procura de bens de capital. Ocorreria, assim, uma retração da produção de bens de capital que obrigaria as indústrias desse setor a despedirem trabalhadores, provocando queda do valor global dos salários e a retração do mercado consumidor. Em conseqüência haveria um corte na produção de bens de consumo e demissões em massa nas indústrias desse setor. Os salários declinariam ainda mais, agravando o excesso de bens de consumo no mercado. As sucessivas repercussões em ambos os setores culminariam em um colapso econômico que faria inchar o exército de reserva e deprimiria o padrão de vida reduzindo-o abaixo do nível de subsistência. Ao fim de algum tempo, a oferta voltaria a ser inferior à procura no mercado consumidor, iniciando-se a recuperação de economia. Segundo Marx, o capitalismo efetivamente cresce, mas aos trancos e barrancos, atravessando ciclos de prosperidade e, em seguida, de recessão, com crises periódicas de desemprego [11].
Outra conseqüência da acumulação de capital analisada por Marx foi a concentração da riqueza e do poder econômico em mãos de um número cada vez mais restrito de capitalistas. As inovações tecnológicas aliadas à concorrência entre os capitalistas impulsionavam o processo de concentração do capital, do qual emergiam empresas cada vez maiores, controladas por um número cada vez mais restrito de capitalistas. Esse processo ampliou o abismo existente entre as classes da sociedade capitalista: de um lado, uma minoria de capitalistas abastados, de outro, o proletariado. Ao mesmo tempo em que ocorria a concentração do capital, as condições de vida do proletariado pioravam continuamente. Marx afirma que a sorte do trabalhador pioraria, ainda que seu salário aumentasse, pois quanto mais complexa é a divisão de trabalho, menos variadas, mais monótonas e tediosas as atividades do trabalhador [12].

ESTADO CAPITALISTA E REVOLUÇÃO SOCIALISTA
Marx combateu a tese de que o socialismo poderia ser criado por meio de reformas pequenas e graduais, aplicadas pelo Estado. Em todos os períodos da história, ou em todos os modos de produção, o Estado desempenhou sempre o papel de instrumento coercitivo da classe dominante. No sistema capitalista, o Estado desempenha duas funções. Inicialmente, a função de assegurar o domínio das capitalistas sobre os demais membros da sociedade ao legitimar os direitos de propriedade molestando aqueles que combatem o capitalismo, travando guerras para ampliar os mercados, construindo estradas, ferrovias, canais, administrando o serviço postal e realizando outras tarefas indispensáveis para o bom andamento dos negócios. Em segundo lugar, o governo atua como árbitro das divergências que ocorrem entre os capitalistas. Se não houvesse um organismo capaz de resolvê-los, alguns destes choques poderiam colocar em risco a própria existência do sistema. Por essas razões, Marx combateu os socialistas que confiavam em que o Estado colaboraria na transição do capitalismo para o socialismo. A instauração do socialismo só se faria através de uma revolução. A soma das contradições e das adversidades produzidas pelo sistema capitalista tornaria impossível a sobrevivência deste. A classe operária se revoltaria, destruiria o sistema e em seu lugar criaria um sistema econômico mais racional, o socialismo [13].

NOTAS

[1] NOGUEIRA, Marcos Aurélio, Introdução ao Manifesto do Partido Comunista, p. 9-12 em MARX, Karl. Manifesto do partido comunista. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2003.
[2] Idem, Ibidem, p. 12-16.
[3] HOBSBAWM, Eric J. A era do capital, 1848-1875. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 27,28.
[4] NOGUEIRA, Marcos Aurélio, Introdução ao Manifesto do Partido Comunista, p. 17-26 em MARX, Karl. Manifesto do partido comunista. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2003.
[5] Idem, Ibidem, p. 26-29.
[6] Idem, Ibidem, p. 29-33.
[7] HUNT, E. K., SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 91,92.
[8] Idem, Ibidem, p. 92-94.
[9] Idem, Ibidem, p. 94-96.
[10] Idem, Ibidem, p. 97,98.
[11] Idem, Ibidem, p. 98-102.
[12] Idem, Ibidem, p. 102,103.
[13] Idem, Ibidem, p. 104,105.

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