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Posts Tagged ‘arcaísmo das estruturas econômicas e sociais’

revolucionO presente trabalho é um fichamento do capítulo VI do livro “História Contemporânea” organizado por Jacques Neré. O capítulo ora focalizado tem como título “A Europa central de 1815 a 1851” e foi escrito por P. Guillen.
Guillen começa falando sobre as forças conservadoras, subdividindo este primeiro tópico em três partes: a Confederação Germânica, o absolutismo monárquico e o arcaísmo das estruturas econômicas e sociais.
Quanto à Confederação Germânica, Guillen mostra que a divisão política da Alemanha surgiu a partir das decisões do Congresso de Viena. Os soberanos e as classes aristocráticas receiam que as forças liberais os despojem da sua preponderância; a fragmentação política parecer ser o melhor meio de enfrentar essas forças. Entretanto, como é preciso dar uma aparência de satisfação às aspirações unitárias, instaura-se uma confederação de Estados soberanos presidida pelo Imperador austríaco. Tal solução proporciona à Áustria o meio de exercer sua influência sobre o conjunto dos países alemães.
Sobre o absolutismo monárquico, Guillen destaca que a ideologia da restauração não nasceu em 1815. Prolonga a reação conservadora que se manifestou contra a Revolução Francesa. Seus fundamentos são a religião, o princípio da legitimidade e a tradição. Em conformidade com essa ideologia, o absolutismo monárquico triunfa na Alemanha. A solidez dos regimes absolutistas depende das forças que os sustentam. Guillen destaca quatro forças: as igrejas conservam domínio sobre as classes dirigentes e sobre os meios populares e sua ação se exerce num sentido conservador; a nobreza fornece aos Estados monárquicos os ministérios, os altos postos da administração, do exército e da Igreja; a burocracia aplica em toda parte a vontade do príncipe; o exército, formado de mercenários, chefiado por nobres, se concebe como um instrumento a serviço do soberano.
Quanto ao arcaísmo das estruturas econômicas e sociais, Guillen afirma que a economia e a sociedade pouco evoluem, o que facilita a manutenção da ordem estabelecida. A agricultura ocupa cerca de três quartos da população e trata-se de uma agricultura de tipo antigo, de fraca produtividade. As atividades comerciais e industriais vêem o seu desenvolvimento entravado por divisões políticas (que multiplicam os sistemas monetários), pela insuficiência dos meios de transporte, dos capitais e da organização do crédito. A concorrência com a Inglaterra desencoraja as iniciativas e o peso dos regulamentos administrativos dificulta o desenvolvimento das indústrias. O artesanato continua a ser a regra geral. As cidades agrupam uma parte muito pequena da população e a sociedade urbana conserva a sua organização tradicional. Pouco numerosa e com empresas de dimensões modestas, a burguesia não poderia rivalizar em influência com a aristocracia dos proprietários de terras, que retiram dos seus vastos domínios rendas consideráveis e mantêm sob a sua dependência a maioria rural da população permanecendo em vigor o regime senhorial. Durante toda a primeira metade do século, a libertação dos laços da idade feudal continua a ser mera esperança para os camponeses da Europa Central.
O segundo tópico desenvolvido por Guillen é sobre as forças do progresso, o qual é subdividido em outras quatro partes: o movimento para a unificação econômica, o movimento constitucional, a agitação universitária e o abalo de 1830.
Sobre o movimento para a unificação econômica, Guillen destaca que nas regiões que começam a ser tocadas pela revolução industrial, a burguesia se eleva contra a fragmentação política (diversos sistemas monetários), reclama a abolição das alfândegas internas e a criação de um mercado alemão unificado. Preocupado em conseguir a adesão da burguesia e em estender a sua influência na Alemanha, o Estado prussiano encabeça o movimento pela unidade econômica e suprime as linhas alfandegárias entre as suas províncias. As conseqüências são consideráveis: progresso das trocas, novo ritmo dado à industrialização, transformação das estruturas da sociedade, prestígio da Prússia e solidariedade econômica estabelecida entre a Prússia e os Estados do Sul.
Quanto ao movimento constitucional, Guillen escreve que a burguesia intelectual reclama participação na vida política e garantias no tocante às liberdades públicas. Conduzem certos príncipes a fazer concessões. Todavia, as constituições de 1816 a 1820 não tocam na prerrogativa real. A Prússia e a Áustria permanecem afastadas do movimento constitucional.
No que toca a agitação universitária, Guillen destaca que depois de haverem combatido por uma Alemanha unida e livre, os estudantes continuam apegados a esse ideal. Se propõem a desenvolver uma consciência nacional, lutar contra o particularismo principesco. Alguns depositam suas esperanças na boa vontade dos soberanos, outros convocam os cidadãos para sublevar-se e derrubar os tiranos, fundando uma república alemã. Neste contexto, os governantes impõem medidas repressivas que só conseguem dar um caráter mais radical aos estudantes.
Guillen também fala sobre o abalo de 1830. Mostra que o peso das leis ficais, os rigores da exploração senhorial, a arbitrariedade dos regimes burocráticos e policiais suscitam um descontentamento que explode em 1830, à notícia da revolução de Paris. Distúrbios revolucionários afetam diversos Estados absolutistas que aderirão ao sistema constitucional. Fora desses Estados os descontentes limitam-se a reclamar reformas. A Áustria permaneceu imóvel. Na Prússia, as medidas militares abafaram as manifestações e a burguesia, inquieta com a entrada em cena das massas, contentou-se com algumas concessões. Os liberais organizaram-se para levar a cabo uma ação de propaganda imaginando que a pressão da opinião pública obrigará os governos a realizar reformas. Os discursos pronunciados repercutem em toda a Alemanha e os soberanos se assustam. Estes impõem uma legislação repressiva e perseguem diversas personalidades liberais. A corrente radical decide preparar uma sublevação armada, cujo único resultado é agravar ainda mais a vigilância da imprensa, das universidades e a decapitação da corrente radical, que assustava o grosso da burguesia em função de seu arrojo.
O terceiro tópico abordado por Guillen se refere aos anos que precederam as revoluções de 1848. Guillen subdivide este tópico em três partes: economia e sociedade; liberalismo, radicalismo e socialismo na Alemanha; e problemas do império da Áustria.
No que diz respeito à economia e à sociedade, Guillen destaca que o desenvolvimento dos meios de transporte dá impulso às atividades comerciais e industriais. O trabalho industrial constitui um setor em rápida expansão. Os efeitos da industrialização, que multiplica as bocas que é preciso alimentar e os braços que é preciso empregar, pesam sobre as estruturas tradicionais da sociedade. O exército dos camponeses sem terras assiste à deterioração das condições de trabalho e do nível de vida. A nobreza tem de enfrentar as reivindicações da nova burguesia comercial. A burguesia busca conter a pressão das massas populares, cuja ameaça já sente. A concorrência inglesa provoca uma crise geral do artesanato. Mestres e operários vêm seu nível de vida cair. A miséria dos trabalhadores provoca distúrbios e os operários de fábrica já formam núcleos densos como ameaça à ordem pública e à propriedade, pois a dureza das condições de trabalho, o desemprego e a baixa dos salários sustentam o descontentamento e a agitação.
Quanto ao liberalismo, radicalismo e socialismo na Alemanha, Guillen informa que a crise econômica que atinge a Alemanha (e o resto da Europa) provoca carestia, encarecimento dos gêneros alimentícios, paralisia do comércio e da indústria, arruína empresas e generaliza o desemprego. O descontentamento reforça a oposição. Atingida em seus interesses e temendo a sublevação das massas, a burguesia acusa os governos de imperícia, reclama sua participação no poder e sublinha a urgência de reformas. A imprensa e grandes reuniões mobilizam a opinião pública para arrancar aos príncipes garantias constitucionais e a reforma da Confederação. Os radicais elaboram um programa democrático, distribuem milhares de exemplares e cogitam a formação de grupos armados. Marx e Engels tentam agrupar os elementos revolucionários; sob seu impulso, a Liga dos Comunistas precisa o seu programa (o Manifesto) e esforça-se por preparar o proletariado alemão para representar um papel decisivo nas revoluções iminentes.
Sobre os problemas do império da Áustria, Guillen afirma que Viena é fonte de novas tensões: desenvolvimento da burguesia comercial, que impugna a ordem monárquica e feudal; formação de um proletariado miserável em crônica efervescência; dificuldades do artesanato a domicílio. A crise econômica de 1846-1847 provoca a agitação popular e a inquietação da burguesia. Reclama-se uma Constituição que ponha fim ao absolutismo. Graves dificuldades financeiras e o imobilismo governamental tiram do regime o apoio dos financistas vienenses. A fração esclarecida da nobreza e da burguesia denuncia a inércia e a incapacidade dos homens que estão no poder. Acrescentam-se a questão camponesa e a das nacionalidades. Os elementos do domínio senhorial estão cada vez mais insuportáveis. O império tem de enfrentar reivindicações de autonomia. A nobreza tcheca e húngara reclama o respeito dos privilégios históricos. O renascimento nacional dos romenos e eslavos também está começando a processar-se.
O quarto e último tópico abordado por Guillen diz respeito às revoluções de 1848 propriamente ditas. Guillen subdivide este quarto tópico em três partes: revolução e contra-revolução na Alemanha, revolução e contra-revolução no império da Áustria e o revés do movimento unitário alemão.
Maerz1848_berlinNo que se refere à revolução e contra-revolução na Alemanha, Guillen diz que nas cidades, os burgueses, com o apoio dos artesãos e operários, arrancam dos príncipes reformas constitucionais; nos campos, insurreições de camponeses abatem o regime senhorial. Mas a união entre a burguesia e o povo logo se dissolve. As populações das cidades estão em estado de efervescência. Sucedem-se as manifestações e petições de tendência democrática; os operários formam associações. O desenvolvimento das correntes democráticas ou socialistas, apoiadas na agitação popular, assusta a burguesia. Com medo da revolução social, ela sacrifica suas ambições políticas e o compromisso liberal imposto aos soberanos; o restabelecimento da ordem implica em deixar o campo livre às forças da reação. Na Prússia, uma fachada constitucional apazigua o liberalismo burguês. Restaurada em Berlim a autoridade monárquica, o exército prussiano restabelece a ordem nos outros Estados. A agitação mantida pelos democratas e patriotas transforma-se em insurreições em decorrência das medidas de repressão postas em prática pelos governos. O exército esmaga os insurgentes e as correntes democráticas e socialistas são decapitadas. O liberalismo perde os seus chefes burgueses: a experiência da revolução os levou a aderir, doravante, à ordem monárquica e aristocrática.
Quanto à revolução e contra-revolução no império da Áustria, Guillen pontua que a agitação sustentada em Viena pela burguesia liberal transforma-se em motim. Estudantes, artesãos e operários erguem barricadas. O governo inclina-se diante do motim: retira-se o exército, Metternich pede demissão, o imperador promete uma Constituição e concede garantias contra o retorno do antigo regime. Todavia, a vitória da burguesia é ilusória, pois não se preocupam em obter os meios para fortalecer suas conquistas; abandonam aos ministros, à burocracia e à nobreza a tarefa de estabelecer um regime constitucional. Por outro lado, a agitação dos estudantes e democratas, insatisfeitos com as concessões obtidas, unida à efervescência das massas populares, provoca uma divisão entre a burguesia e o povo que redunda no esmagamento dos operários vienenses. Guillen aborda ainda movimentos em Praga e outros pontos do império austríaco. Com a ajuda da Russia, a Áustria consegue conquistar a ordem em todo o seu território.
No que diz respeito ao revés do movimento unitário alemão, Guillen termina mostrando que na primavera de 1848, o ataque vitorioso das forças liberais contra os soberanos fez nascer grandes esperanças entre os patriotas alemães. Um parlamento, eleito pela nação alemã, reuniu-se em Frankfurt. Compreende, sobretudo, representantes da burguesia intelectual. A amplitude dos objetivos contrasta com a sua impotência para atingi-los. Separados das massas não dispõem de nenhum meio para impor suas decisões aos soberanos. Profundas divergências lhes acentuam a fraqueza. Aos radicais opõe-se a maioria moderada. O rei da Prússia recusa a coroa. A campanha dirigida pelos liberais e democratas chega ao fim. O exército esmaga as sublevações. O rei da Prússia tenta agrupar em torno de si uma federação dos Estados do norte, mas o governo austríaco estabelece um ultimato e a Prússia se vê obrigada a inclinar-se. A rivalidade austro-prussiana, que acaba de despertar, comandará, a partir desse momento, o problema da unidade alemã.

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